O Automatismo cardíaco:
O coração é caracterizado por automatismo, ou seja, NÃO é necessária a participação do sistema nervoso central para que haja a contração do músculo cardíaco.Ele é dotado de um sistema especializado que gera impulsos ritmados, que por sua vez vão provocar a contração rítmica do músculo cardíaco; e conduz rapidamente esses impulsos por todo o coração; é constituído por:
-> Nó Sinusal - parte superior da parede póstero-lateral da aurícula direita, à frente e por fora do orifício da veia cava superior;
-> Nó Átrio-ventricular - parede posterior da aurícula, por trás da válvula mitral;
-> Feixe de His;
-> Fibras de Purkinje.
O nó sinusal/sinoatrial é o verdadeiro pacemaker do coração porque o número de estímulos aí gerados é superior a qualquer outro foco de automatismo. Nascido do nósinusal o estímulo propaga-se através das aurículas que constituem em si um sincício - um conjunto de células ligadas entre si em que uma vez aplicado o estímulo este rapidamente se propaga chegando aos anéis fibrosos valvulares. Aí o estímulo sofre um atraso na passagem para o ventrículo. O nódulo aurículo-ventricular pela sua estrutura origina atrasos na condução do estímulo de 0,1 a 0,2 segundos e depois este passa muito rapidamente, atingindo velocidades de 2, 3, 4, 5 metros por segundo, pelos ramos do feixe de His, o ramo direito, o ramo esquerdo, pela sua porção anterior e posterior, pela rede de Purkinje, ativa-se todo o coração e assim a contração faz-se quase de uma maneira sincronizada, com uma grande eficiência da bomba cardíaca.
O potencial de repouso , devido a trocas iônicas transmembranares, pode-se converter num potencial de ação e assim os diferentes potenciais têm morfologias que não são idênticas, por exemplo, o potencial ao nível do nódulo sinusal é diferente daquele que se regista ao nível do nó átrio-ventricular e este diferente daquele que se obtém nas fibras de Purkinje.
Qual é o interesse prático? É que hoje em dia, o chamado eletrocardiograma tem sido muito bem conhecido através de registos de potenciais dentro do próprio coração. A chamada eletrofisiologia permite identificar potenciais em diferentes zonas do coração e até em caso de fibrilhações se consegue através da ablação uma normalização do problema.
Toda esta atividade do sistema de condução cardíaco é influenciada pelo sistema nervoso autônomo, particularmente pelos chamados tono simpático e tono vagal.
Quando o indivíduo está sob determinado stress, em que aumenta a atividade adrenérgica (atividade simpática), aumenta a frequência cardíaca, aumenta a condução, aumenta a excitabilidade, o indivíduo pode arranjar arritmias.
Pelo contrário, pelo aumento do tono vagal (atividade parassimpática) que acontece em condições normais durante a noite, aí pelas 4, 5 da manhã, isto num indivíduo normal que tem um ritmo circadiano considerado padrão, aí podemos atingir frequências muito baixas, sem que isso signifique anomalias ou bradicardia patológica, é normal, é influência do tono vagal (pneumogástrico).
A irrigação destas estruturas é muito importante - provém quer da artéria descendente anterior, que é ramo da coronária esquerda, como da descendente posterior que é ramo da coronária direita - e portanto se este tipo de irrigação fica comprometido vai influenciar o funcionamento cardíaco. Se a artéria do nó sinusal é obstruída pode haver uma paragem cardíaca e morte, se for ao nível da artéria do nó aurículo-ventricular (de Aschoff Tawara) pode levar a um bloqueio, que se não for devidamente corrigido, também pode comprometer a vida.
Este sincício permite a propagação do estímulo rapidamente a todo o músculo. Há realmente uma compartimentação, a estrutura cardíaca está dividida em compartimentos - podemos falar no sincício auricular e no sincício ventricular devido aos anéis fibrosos, que impedem a propagação imediata dos estímulos. Ao nível dos ventrículos o conjunto de vetores, é mais marcado no ventrículo esquerdo, porque tem mais músculo, é o verdadeiro motor, é a verdadeira bomba.
A frequência em relação ao automatismo varia nessas diferentes estruturas - nó sinoatrial, nó aurículo-ventricular e rede de Purkinje, porque a morfologia dos potenciais é diferente, logo, a frequência com que eles aparecem vai sendo menor do nó sinoatrial até à rede de Purkinje.
(Guyton & Hall – Tratado de Fisiologia Médica, 12ªedição)
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